Descrição da editora
No centro do Rio de Janeiro um executivo é encontrado morto com um tiro, sentado ao volante de seu carro. Além do tiro, único e definitivo, não há outros sinais de violência. É um morto de indiscutível compostura. Mas isso não ajuda: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada.O policial encarregado do caso, inspetor Espinosa, costuma refletir sobre a vida (e a morte) olhando o mar sentado em um banco da praça Mauá.
No momento tem muito sobre o que refletir. De um lado, um morto surgido num edifício-garagem; de outro, a incessante multiplicação de protagonistas do drama. Tudo se complica quando ocorre outro assassinato e pessoas começam a sumir
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Bia Nunes de Sousa
Nosso homem no Peixoto ![](/images/icon.star5.gif) (Classificação 5 de 5)
O que dizer de um livro policial cujo crime principal não é propriamente um crime? De uma história em que nós, leitores, somos os únicos a saber que não houve assassinato algum? Como é possível que o autor revele, nos primeiros quatro parágrafos do livro, como realmente se deu a morte de um dos personagens, que desencadeia a ação? Dir-se-ia que o livro é um lixo, e o autor, um louco. Ambas as deduções não poderiam estar mais longe da verdade, tão longe que fariam cair o cachimbo de Sherlock Holmes ou despentear o bigode de Hercule Poirot.
Louco, não se pode afirmar que o autor o é, embora deva ter testemunhado sua cota de transtornos psicológicos durante a carreira de psicanalista. E lixo é o último adjetivo que se deve atribuir ao excepcional O Silêncio da Chuva, de Luiz Alfredo Garcia-Roza.
É a opção pelo foco narrativo em terceira pessoa, o tal narrador onisciente, que permite que Garcia-Roza consiga a proeza de contar o final do livro antes mesmo de começá-lo. A ousadia, que a princípio deixa o leitor desconfiado (“Mas de que raios vai tratar as duzentas e tantas páginas restantes se logo na primeira página já fico sabendo de tudo o que acontece?” – pergunta-se o leitor incauto), é apenas um indício da excelente verve literária que Garcia-Roza possui e que fica comprovada a medida que avançamos na leitura do livro.
Na tradição dos romances policiais clássicos, Garcia-Roza cria um detetive que, embora seja protagonista de pelo menos mais cinco livros até agora, é muito bem caracterizado neste primeiro livro. Espinosa é um personagem cativante, fora dos padrões comumente estabelecidos para a polícia na ficção, principalmente na cinematográfica, com quem a literatura policial mais que flerta. O policial brasileiro criado por Garcia-Roza tem um quê de Montalbano, do italiano Andrea Camilleri, e outro de Jules Maigret, do prolífero belga Simenon, e escapa felizmente do estereótipo de truculento e durão estabelecido por personagens clássicos do noir americano, como Sam Spade e Phillip Marlowe (a bem da verdade, nem Spade nem Marlowe eram membros da polícia, mas acho que a comparação ainda vale).
De classe média, Espinosa divide com os colegas europeus não só o cargo de inspetor e o apreço por atividades um pouco mais refinadas como leitura e gastronomia, mas principalmente o raciocínio ordeiro e sutil de que se utiliza para desvendar os crimes. Nem o brasileiro nem os europeus possuem inteligência extraordinária, nenhum deles é uma máquina de raciocinar. Ao contrário, são homens comuns, que cometem erros, pagam contas, têm dor de cabeça, se apaixonam e, ao mesmo tempo, são profissionais muito competentes.
O espaço das andanças de Espinosa é o centro do Rio de Janeiro, o que confere um charme todo especial ao livro. Ajuda na composição do cenário o fato de Espinosa morar no bairro Peixoto, um punhado de ruas embutido entre Copacabana e a montanha, excêntrico por si só.
Garcia-Roza e seu inspetor Espinosa são uma das melhores representações da literatura policial brasileira. Com uma escrita direta, sem rebuscamento, O Silêncio da Chuva é leitura obrigatória, um clássico contemporâneo, por assim dizer.
( O Silencio da Chuva)
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O Silencio da Chuva
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