janete netto bassalobre AS TRÊS DIMENSÕES DA INCLUSÃO

(Classificação 5 de 5)

Inúmeras transformações, sobretudo àquelas relacionadas às posturas adotadas atualmente com relação à deficiência, são necessárias para promover a inclusão que, ainda hoje é confundida com a integração, que apenas insere o sujeito na escola, esperando que se adapte a um ambiente escolar já estruturado; a verdadeira inclusão presume o redimensionamento de vários aspectos, tais como estruturas físicas da escola, adaptações curriculares e mudanças de atitudes dos educadores, entre outros. Dentro dessa perspectiva de escola inclusiva, todos os artigos do livro partem, basicamente, do pressuposto da questão dialética exclusão/inclusão em suas três dimensões: a do desenvolvimento de culturas, a do planejamento de políticas e a da organização das práticas inclusivas.
Mônica Pereira dos Santos, organizadora da obra, é doutora em Psicologia e Educação Especial pelo Institute of Education - Universidade de Londres, é professora da UFRJ e fundadora do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação.
Inicialmente, em Inclusão em Educação: uma visão geral, a partir do raciocínio de que a escola participa de forma determinante nos processos excludentes e de desconsideração à diversidade, os organizadores postulam a educação inclusiva como um dos instrumentos fundamentais na construção de uma sociedade que possa proporcionar a todos os indivíduos a oportunidade de participação nos processos educacionais e sociais em termos igualitários.
Dimensões e diálogos de exclusão: um caminho para a inclusão identifica ações e conceitos que gestam a dialética inclusão/exclusão através da lógica do capital (que estabelece as políticas), das ações culturais escolares (que determinam as culturas) e das práticas pedagógicas utilizadas, que promovem um sistema que não comporta a criatividade e a emancipação, simplesmente obedecendo as diretrizes de mercado e construindo um modelo de escola onde os alunos são levados a reproduzirem o sistema dominante, favorecendo a exclusão.
Em Inclusão e ambiente escolar, reflete-se sobre um processo de inclusão escolar que se constitui apenas em uma parcela do que a autora chama de “inclusão real e legítima”, que visaria oferecer as condições de exercício da cidadania. Analisa os elementos indispensáveis para o sucesso do processo inclusivo na educação especial: o sujeito incluído, aquele que necessita ser auxiliado para transpor os obstáculos que o impedem de desempenhar atividades e participar ativamente da sociedade; a família, figura fundamental no processo e o professor, que deverá ser assessorado para conseguir promover o desenvolvimento das potencialidades dos alunos.
As relações entre inclusão escolar e criatividade nas práticas pedagógicas são analisadas em Expressão da Criatividade na Prática Pedagógica. Apresentando uma reflexão sobre a importância da formação do professor criativo para a construção de culturas de inclusão, estabelece as relações entre inclusão e criatividade, uma vez que tanto uma como outra são resultados de necessidades culturais humanas.
Inclusão e Processos de Formação destaca a dimensão pessoal e subjetiva da formação dos professores, postulando-a como fator determinante no processo de gerar políticas inclusivas para a construção de novas formas de intervenção do trabalho docente. E em O Professor de Educação Física como agente do processo inclusivo, surge a questão de se os docentes do curso em questão se reconhecem enquanto agentes no processo inclusivo. Caracteriza a disciplina de Educação Física dentro de um panorama bem mais abrangente do que aquele que visa somente as aptidões físicas.
O Coordenador Pedagógico como Agente para a Inclusão assinala o quanto a ética nas práticas cotidianas necessita abandonar a reprodução de hábitos para se afirmar como prática responsável de todo educador em acatar um posicionamento que intente transformação da realidade excludente da escola. Utiliza os postulados de Vygotsky com respeito à importância da linguagem na formação dos sujeitos para analisar até que ponto esses coordenadores pedagógicos apropriam-se dos conteúdos transmitidos pelo curso e transformam com isso as suas próprias representações de ensino e aprendizagem.
Inclusão na educação: uma reflexão crítica da prática contextualiza a inclusão do ponto de vista da educação profissional para as pessoas com necessidades especiais, reafirmando a diferença entre os conceitos de integração e inclusão. Discute os novos desafios relativos às práticas inclusivas dentro da escola enquanto espaço de acesso ao conhecimento, mas também enquanto contexto social para a construção da cidadania.
Em Educação Inclusiva: repensando políticas, culturas e práticas na Escola Pública, dentro da perspectiva vigotskiana que contempla aspectos como o brincar, o desenho e os aspectos sociais e afetivos, analisam a necessidade da ressignificação das práticas avaliativas excludentes que a escola vem gerando para os portadores de necessidades especiais. As autoras chamam a atenção para as profundas reformas que serão necessárias quanto ao currículo e a avaliação para que a aprendizagem desse tipo de aluno possa ser realmente levada a termo em meio a uma atividade pedagógica que possa desenvolver suas potencialidades.
Cidadania e exclusão são os temas enfocados no último artigo (Comunicar para viver ou viver para comunicar? Direito mais que natural de qualquer cidadão), onde os autores analisam os fatores que nos tornam cidadãos, abordando o sistema de comunicação alternativa e ampliada bem como as deficiências que se beneficiam dessa alternativa especial de comunicação.
Sob a ótica do combate à exclusão e da construção de uma escola realmente inclusiva, os autores condensam no presente volume uma reflexão diversificada dos vários aspectos da realidade educacional para os portadores de necessidades especiais bem como tentam reunir elementos das dimensões políticas, práticas e do desenvolvimento de culturas que possam estabelecer direções para a Educação Especial que considerem as singularidades e especificidades de cada indivíduo, objetivando com isso uma verdadeira prática inclusiva paralelamente à edificação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Dessa maneira, a obra resenhada apresenta-se como uma importante contribuição no âmbito da educação de alunos portadores de necessidades especiais, da mesma forma que para a ressignificação do entendimento da escola inclusiva em seus vários aspectos. Quanto ao desenvolvimento de culturas e às práticas, o livro recebe uma profunda atenção dentro da perspectiva de reconstrução de conhecimentos e posturas, deixando entrever a importância do conjunto de ações e representações individuais e grupais que dão sentido aos intercâmbios entre os indivíduos e que, na verdade, constroem a realidade de todos. (Inclusao em Educacao)

Inclusao em Educacao : Culturas Politicas e Pratica

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